1. A natureza da Criança

Invariante nº 1

 

A criança é da mesma natureza que o adulto.

    Ela é como uma árvore que ainda não terminou seu crescimento, mas que se alimenta, cresce e se defende exatamente como a árvore adulta.

    A criança se alimenta, sente, sofre, procura e se defende exatamente como você, apenas com ritmos diferentes que provêm de sua fraqueza orgânica, de sua ignorância, de sua inexperiência, e também de seu potencial de vida incomensurável, que, entre os adultos, está muitas vezes perigosamente afetado.

    A criança age e reage consequentemente, e vive exatamente segundo os mesmos princípios que você. Não existe, entre você e ela, uma diferença de natureza, mas apenas uma diferença de grau.

    Consequentemente:

    Antes de julgar uma criança ou sancioná-la, você se pergunta: se eu estivesse no lugar dela, como reagiria? E como agíamos quando éramos como ela?

Submeta-se lealmente a este teste:

SINAL VERDE               

Você se esforçou para se impregnar com este invariante?

SINAL AMARELO              

Reconhece este invariante, embora hesite em se conformar a ele?

SINAL VERMELHO          

Em seu comportamento, ainda considera muitas vezes a criança como sendo de uma natureza diferente da sua?  

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Invariante nº 2

 

Ser maior não significa necessariamente estar acima dos outros.

    Você é grande e, por este simples fato, tem tendência para considerar como inferiores aqueles que estão abaixo de você. É uma espécie de sensação, digamos fisiológica, oposta à sensação de vazio vertiginosos de quando se está na varanda de um 8° andar ou sobre um pico que cai verticalmente sobre um vale. Todo mundo experimenta sobre um vale. Todo mundo experimenta essa sensação. É necessário tomar consciência dela e se defender, porque ela perturba e desorienta.

    Você é maior do que seus alunos. Isso ainda não lhe basta. É preciso que você suba num estrado para assegurar sua superioridade.

    Essas são impressões, sentimentos, que prejudicam muito mais do que se pensa todos os candidatos à pedagogia moderna.

    É para convidá-lo a se despojar dessa necessidade de dominação que preconizamos, desde o início, um certo número de gestos simbólicos e, no entanto, determinantes para a indispensável evolução.

    - Suprima o estrado: ficará, de repente, no mesmo nível que as crianças. Você as verá com olhos nçao de pedagogo ou de chefe, mas com olhos de homens e de crianças, e, assim, reduzirá, imediatamente, o distanciamento perigoso que existe nas classes tradicionais entre o aluno e o professor.

    - Se, por razões administrativas, não pode retirar o estrado para convertê-lo, por exemplo, numa mesa de exposição e de trabalho, recomendamos que, pelo menos, destrone a mesa do professor colocando-a no nível das crianças, num lugar que não estorve, e não necessariamente na frente das crianças.

    O estrado e a cátedra são elementos indispensáveis da pedagogia tradicional, na qual reina a verborragia, com as aulas, as explicações, os questionários praticados efetivamente com mais autoridade e eficiência quando não se está no nível dos que escutam.

    Acrescentemos que a posição de luta entre professores e alunos requer, para a vigilância, a autoridade e a disciplina, essa elevação material e simbólica.

    Coloque-se no nível de seus alunos. Entrará em cheio na pedagogia moderna. Será levado a refletir e a começar a reconsideração de suas atitudes e de seu comportamento pedagógico.

Teste:

SINAL VERDE

Retirar o estrado com todas as consequências pedagógicas que esse gesto comporta.

SINAL AMARELO

Colocar a mesa do professor no nível dos alunos.

SINAL VERMELHO

Deixar o estrado com seu uso tradicional.

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Invariante nº 3

 

O comportamento escolar de uma criança é função de seu estado fisiológico, orgânico e constitucional.

    Tem-se tendência de considerar, sem humanidade, que a criança que trabalha mal ou se coporta de modo repreensível o faz intencionalmente e por malignidade.

    Certamente esses hábitos às vezes são adquiridos, e suportamos suas consequências, o que não quer dizer que a criança é totalmente responsável pelas taras que se manifestam nela.

    Não se esqueça de que seu trabalho também é deficiente quando você está com dor de cabeça, de dentes, ou tem má digestão ou fome. Fica nervoso mais facilmente quando fracassou em um trabalho, brigou com um adversário mais forte ou não conseguiu realizar um projeto de grande interesse.

    As crianças são simplesmente como você. Diante das deficiências de comportamento que você constata, tende se perguntar se não existem causas de saúde, de equilíbrio, de dificuldades do meio ambiente que precisariam ser revistas primeiro.

    Você tentará corrigí-las. Se não puder, agirá pelo menos com mito mais razão e humanidade e, assim, melhorará também o clima de sua classe.

Teste: Você se aplica em procurar as razões psicológicas, psíquicas ou sociais do comportamento perturbado de algumas crianças (nossa pedagogia o ajudará).

SINAL VERDE

Se já conseguiu bons resultados.

SINAL AMARELO

Se teve êxito muito relativo.

SINAL VERMELHO

Ainda reage como pedagogo tradicional sem levar em conta as dificuldades individuais de seus alunos.

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2. As reações da criança

Invariante nº 4

 

Ninguém - nem a criança nem o adulto -  gosta de ser comandao autoritariamente.

    Isto é uma espécie de reflexo ao mesmo tempo fisiológico e psicológico.

    Quando você se aventura por um caminho é porque, seja como for, julga conveniente seguir por ele. Se não está seguro de que é uma boa direção, você tateia, avança timidamente, ou retrocede para recomeçar em seguida.

    Mas se alguém o empurra, você tem o mesmo reflexo que teria se estivesse à beira de um tanque e uma mão suspeita o fizesse perder o equilíbrio. Instintivamente, mecanicamente, você faz o esforço inverso para resistir ao empurrão e restabelecer o equilíbrio.

    Essa lei é geral. Não tem exceção nem do ponto de vista fisiológico nem no comportamento moral, social ou intelectual.

    Todos nós somos assim. E por isso, qualquer gesto, qualquer comando autoritário acarreta uma oposição automática da parte de quem o sofre: ou cora, ou esboça um gesto de resistência, talvez rapidamente reprimido, ou fica perturbado no desenrolar de seus pensamentos e de seus sentimentos.

    Disto resulta que, por princípio, todo comando autoritário é sempre um erro.

    Podem dizer que a criança não é suficientemente experiente e que precisamos orientá-la e impelí-la às vezes para onde ela não gostaria de ir. Nem por isso deixa de ser um erro. Cabe a nós buscarmos uma pedagogia na qual a criança escolhe ao máximo a direção a seguir e na qual o adulto comanda o menos possível autoritariamente.

    É o que nossa pedagogia se esforça por fazer ao dar ao máximo a palavra à criança, deixando-lhe, individual e cooperativamente, a maior iniciativa no âmbito da comunidade, esforçando-se mais para preprará-la do que para dirigí-la.

    Quando organizamos nosso Plano de Trabalho, apresentamos à classe 3 ou 4 temas que as crianças ou as equipes irão estudar.

    Para a distribuição dos temas,existem dois modos de agir: o autoritário, habitual na escola tradicional, que ordena:

                tema n° 1 - X

                tema n° 2 - Y

                tema n° 3 - Z 

    Nenhuma criança ficará satisfeita.

    Ao invés disso, dizemos: aqui estão três temas a serem tratados. Cada um escolhe aquele que lhe interessa. Os temas são distribuídos conforme os pedidos. Os últimos ficarão forçosamente com o tema que sobrar.

    Neste caso, a possibilidade de escolha foi muito limitada. Mas as crianças não foram impelidas autoritariamente. Ficam satisfeitas.

    Se impomos um texto à criança, haverá automaticamente oposição. Ofereçamos a liberdade de escolha e tudo entrará nos eixos.

    Comandar autoritariamente é um erro. Evitar o erro será sempre salutar.

Teste:

SINAL VERDE

Você previu em sua classe uma pedagogia sem comando autoritário.

SINAL AMARELO

Busc uma solução mitigada, com um resto de autoridade e uma tentativa de liberalização.

SINAL VERMELHO

Prefere ainda comandar autoritariamente em todas as circunstâncias.

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Invariante nº 5

(que decorre do anterior)

Ninguém gosta de se alinhar, porque se alinhar é obedecer passivamente a uma ordem externa.

 

    Existem jogos ou trabalhos coletivos, o esporte, por exemplo, nos quais o alinhamento é sentido como uma necessidade.

    Existem casos também em que esse alinhamento é como uma necessidade administrativa ou técnica, exigida por uma autoridade que nos ultrapassa e da qual somos vítimas. Isso ocorre especialmente com a necessidade em que nos encontramos, devido à organização social atual, de respeitar estritamente o horário das refeições - em casa ou na cantina, o horário de entrada e saída da classe, a disciplina das filas que são uma invenção dos tempos de penúria.

    Nesses casos, é suficiente explicar às crianças as razões imperativas de certos atos e comportamentos: se o trem passa às 6h da manhã, temos que sair de casa às 5h30m se nção quisermos chegar muito tarde.

    Podemos dizer que essa disciplina não é muito perturbadora e não modifica obrigatoriamente as relações professor-aluno, com a condição de que o professor não abuse dos poderes de sua função.

    A obrigação perigosa é a que aparece para as crianças como supérflua, como sinal de um prazer malígno do adulto em provar sua autoridade soberana, mostrando que suas ordens devem desencadear um reflexo de obediência passiva que é estúpida.

    A disciplina militar é típica desse erro insuportável para os que estão nas fileiras e rege autoritariamente todas as relações entre soldados e graduados.

    A prova de que essa disciplina é o oposto das regras de vida e de ação e só existe para reforçar a autoridade brutal é que ela se atenua e até desaparece em períodos de atividade ou durante as guerras. Essa forma externa de disciplina desaparecia quase totalmente durante a guerra entre os homens da frente de batalha. Desaparecia totalmente durante a clandestinidade e os maquis, e, apesar disso, os soldados sem uniforme e sem disciplina externa souberam respeitar a mais eficiente das disciplinas: a da ação.

    O mesmo acontece na Escola.

    Existe uma certa disciplina necessária à convivência em grupos mais ou menos bem organizados. As crianças a compreendem , aceitam e praticam, organizam-na elas mesmas quando sentem necessidade. É essa disciplina que devemos buscar.

    Mas é necessário banir todos os alinhamentos cuja necessidade não é sentida pelas crianças e que podem ser substituídos pela organização cooperativa: a ordem para a entrada na sala de aula, o silêncio durante o trabalho, etc.

    Podem existir ordem e disciplina sem autoridade embrutecedora de que são exemplos as filas no pátio, as ordens por meio de apito e os braços cruzados.

Teste:

SINAL VERDE

Suprimir a autoridade brutal que exige todos os alinhamentos supérfluos, atitudes rígidas e braços cruzados, que serão substituídos pela disciplina cooperativa do trabalho.

SINAL AMARELO

Tentativas de organização da disciplina com um mínimo de comando exterior.

SINAL VERMELHO

Continuou com as ordens autoritárias, os alinhamentos, os braços cruzados, etc.

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Invariante nº 6

(decorrente dos anteriores)

Ninguém gosta de se ver obrigado a fazer um determinado trabalho, mesmo que esse trabalho não lhe desagrade particularmente. É a coerção que é paralisante.

    O primeiro movimento da criança ou do adulto a quem se dá uma ordem autoritária: Faça isto! é dizer automaticamente: Não!

    Esta é a explicação, pelo menos parcial, para o período de oposição observado entre as crianças de 7 a 9 anos. Essa é a idade em que o adlto, sob o pretexto de desciplinar a criança, quer sublinhar sua autoridade com o comando brutal que incita e obriga à obediência passiva que muitos pais e professores acreditam indispensáveis a toda educação viril.

    Trava-se então uma batalha entre a criança, que quer experimentar e viver na direção de suas necessidades, e o adulto, que quer dobrá-la à obediência.

    A oposição sistemática é uma fase dessa luta. A criança se conformará se em seguida ela se disciplinar. Existem as que não aceitam essa autoridade brutal e que serão os insubmissos, os agitadores, os desadaptados, com todas as complicações individuais e sociais decorrentes.

    O resultado dessa oposição é que determinadas atividades - especialmente as escolares - são recobertas por uma espécie de véu maléfico, por serem impostas. Desaprende-se o trabalho; nascem as fobias, as anorexias e os complexos graves que uma boa pedagogia evitaria.

Teste:

SINAL VERDE

Abster-se de toda ordem estritamente autoritária. Encontrar outras vias que exaltem o trabalho desejado.

SINAL AMARELO

Reduzir progressivamente as ordens, suprimir os alinhamentos e os braços cruzados.

SINAL VERMELHO

Continuar com a forma normal de disciplina e das ordens, mesmo que a autoridade se tenha atenuado.

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Invariante nº 7

(decorrente dos anteriores)

Todos gostam de escolher seu trabalho, mesmo que essa escolha não seja vantajosa.

    Dê uma bala a uma criança. É claro que ficará satisfeita, mas nem por isso deixará de olhar com desejo o resto da caixa. Apresente-lhe a caixa para que escolha. Ficará muito mais satisfeita, ainda que não tenha escolhido a melhor.

    Aqui também é a liberdade que pinta de vermelho, amarelo ou verde a decisão de intervir.

    Já nos referimos à maneira pela qual, na preparação do trabalho, deixamos às crianças a escolha dos temas em lugar de os distribuirmos autoritariamente.

    Este invariante é uma das razões que constituem o sucesso de nossos fichários autocorretivos e de nossas tiras de ensino. com o manual de cálculo, a criança não tem nenhuma margem de liberdade. Os exercícios são impostos pelo livro ou pelo professor. À criança só resta se alinhar sem dizer nada.

    Dê às crianças a liberdade de escolherem seu trabalho, de decidirem quanto ao momento e ao ritmo desse trabalho, e tudo mudará.

    Imponha aos alunos um texto para ler e para estudar. Eles não têm nem apetite nem entusiasmo. Dê-lhes a liberdade de escolher, como fazemos com o texto livre, e o trabalho será feito num clima muito mais favorável.

    Esse princípio, válido para todos os indivíduos, justifica a sobrevivência do artesanato na França. O operário prefere, ao trabalho imposto da fábrica, sua atividade de artesão, que executa no horário e no ritmo que lhe convém, mesmo que essa escolha lhe traga jornadas mais longas e mais cansativas.

Teste:

SINAL VERDE

Organizar-se e prever as técnicas que fazem com que a criança sempre tenha a impressão de escolher o seu trabalho.

SINAL AMARELO

Experimentar essa escolha livre pelo menos no ensino da língua e na matemática.

SINAL VERMELHO

Praticar quase integralmente trabalhos para cuja escolha a criança não foi consultada.

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Invariante nº 8

(decorrente dos anteriores)

Ninguém gosta de trabalhar sem objetivo, agir como um robô, isto é, realizar atos e dobrar-se a pensamentos que estão inscritos em mecânicas das quais não participa.

    Se uma criança pedala uma bicicleta presa num calço, logo se cansa. No entanto, irá ao fim do mundo numa bicicleta que gire de verdade.

    Veremos nos práximos capítulos onde pode nos levar o sinal verde que nos abre o caminho para o trabalho vivo e a ação.

    Teremos que avaliar todos os exercícios escolares que funcionam com calços, para nada, ou para objetivos que não são os nossos.    

    Sinal vermelho para os diversos exercícios cujo único objetivo é de se cobrirem eventualmente com tinta vermelha.

    Sinal vermelho para o estudo mecânico e de memorização de textos ou de recitações que ninguém compreende.

    Sinal vermelho para as tarefas de redação cujo único leitor será o professor e que não respondem a nenhum dos imperativos naturais de expressão e comunicação.

    Mas teremos, na maior parte das vezes, que considerar os sinais amarelos e os sinais que piscam.

    Nas condições atuais do trabalho escolar, será durante muito tempo difícil substituir o trabalho escolástico pelas atividades motivadas que são a razão de ser de nossa pedagogia.

    Seremos então obrigados a nos conformar muitas vezes com o que existe, adaptá-lo da melhor maneira às nossas técnicas e criar, nesse conjunto condenado, elementos de liberdade e de progresso.

    Um dos elementos ao qual, contrariamente ao que pretendem os psicólogos, não daremos sinal verde, e sim um simples sinal amarelo pulsante, é o jogo, que não é um atividade natural, mas apenas um ersatz do trabalho.

Teste:

SINAL VERDE

São válidas todas as atividades que têm sua razão de ser no compotamento do indivíduo em seu meio.

SINAL AMARELO

Atividades que às vezes dão uma ilusão de liberdade e de motivação, mas que não deixam de ser ersatz.

SINAL VERMELHO

Tarefas escolásticas impostas.

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Invariante nº 9

(que extrai a conclusão das anteriores)

É necessário motivar o trabalho.

    Em um dos meus Dits de Mathieu (Falas de Mateus - A Pedagogia do Bom Senso), dei um exemplo, reproduzido logo abaixo, da profunda diferença entre o trabalho do soldado, sem motivação e sem finalidade, ao qual só se concede a estrita atividade indispensável para evitar as sanções, e o trabalho fortemente motivado, integrado ao ser um seu meio, ao qual chamamos de trabalho de compromisso.

O TRABALHO QUE ILUMINA

    Sim, existem de fato enxadas e arados, e instrumentos mecânicos aperfeiçoados que removem o solo e semeiam os grãos sem que você tenha que se confrontar com a aridez da gleba. Mas eu gosto, quando preparo a sementeira, de peneirar a terra com as mãos e separar amorosamente as pedras, como se alisa o leito fofo de um bebê.
    Assim é: um mesmo trabalho pode ser grilhão ou libertação. Não é uma questão de novidade, mas sim de iluminação e de fecundidade.
    Você conhece a história das "cascas" no regimento? Há uma arte - da qual a Escola fez uma tradição - para operar o mais lentamente possível sem todavia parar de trabalhar. É o stakanovismo ao contrário. E quando se trata de pegar a vassoura para varrer as cascas, ainda é pior: todos os homens não manetas. Às vezes é o próprio cabo que tem que pegar no pesado.
    O soldado sai de licença para ver sua jovem esposa. Fazer a sopa, descascar batatas, até mesmo varrer, tudo isso se torna um prazer cujo privilégio ele exige.
    O castigo da manhã tornou-se uma recompensa!
    O mesmo ocorre na escola, onde determinados trabalhos usados pela tradição serão procurados amanhã tanto quanto as atividades novas, tidas como exclusivas. Não procure a novidade; até mesmo a mecânica mais aperfeiçoada pode cansar se não servir às necessidades profundas do indivíduo. Escolha, no conjunto sempre crescente das atividades que lhe são oferecidas, primeiro aquelas que iluminam a vida, as que dão sede de crescimento e de conhecimento, as que fazem o sol brilhar. Edite um jornal para praticar a correspondência, recolha e classifique documentos, organize a experiência tateante que será a primeira etapa da cultura científica. Deixe que as flores jovens desabrochem, mesmo que o orvalho as molhe às vezes.
    Todo o resto lhe será dado por acréscimo.

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    O que trouxemos de novo para a pedagogia foi essa possibilidade técnica de fazer em nossas salas de aulas efetivamente um trabalho vivo, trabalho de compromisso.

    Quando a criança escreve com prazer um texto livre para o seu jornal ou para seus correspondentes, sinal verde.

    Quando escreve uma carta para o correspondente, sinal verde.

    Quando imprime, desenha e pinta, quando faz experiências ou prepara conferências, sinal verde.

    As crianças compreenderão depressa quais são as atividades motivadas e quais são as que só existem em função da Escola.

  Teste:

SINAL VERDE

Atividades motivadas às quais as crianças se dedicam inteiramente.

SINAL AMARELO

Atividades mitigadas que tentamos influenciar com um novo espírito.

SINAL VERMELHO

Trabalho comum.

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Invariante nº 10

 

Basta de escolástica.

    A escolástica é uma regra de trabalho e de vida particlar à Escola e que não é válida fora da Escola, nas diversas circunstâncias da vida para as quais, portanto, não pode preparar.

    Propomos um meio simples de detecção da escolástica.

    Se você quer saber em que medida uma forma de trabalho é esclástica para lhe aplicar o sinal amarelo ou o sinal vermelho, faça as seguintes perguntas:

  •     Se me obrigassem a fazer este trabalho, eu o faria de bom grado e com eficiência?
  •     Se estivesse no lugar deste aluno, trabalharia com entusiasmo e aplicação?
  •     Se deixasse as portas da sala de aula abertas, com liberdade total para sair quando se quiser, as crianças permaneceriam no trabalho ou escapariam para outras atividades?

Teste:

SINAL VERDE

Trabalhos que nós mesmos faríamos com interesse aos quais alunos e professores são capazes de se dedicar fora do horário, durante o recreio, sem sentir a hora passar.

SINAL AMARELO

Trabalhos mais ou menos marcados pela escola moderna, mas nos quais, nas condições atuais da Escola e do meio, se observamos bem, a parte da escolástica ainda permanece importante.

SINAL VERMELHO

Trabalhos escolásticos tradicionais.

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Invariante nº 10-bis

 

Todo indivíduo quer ter sucesso. O fracasso é inibidor, destruidor do ânimo e do entusiasmo.

    Insistimos especialmente neste invariante porque todas as técnicas da Escola tradicional estão baseadas no fracasso.

    Os primeiros da classe têm sucesso certamente porque têm aptidões especiais, mas também porque sempre têm notas boas e passam nas provas.

    Mas a Escola oprime os outros com a avalanche dos fracassos: excesso de vermelho nas lições, notas baixas, "refazer", cadernos mal arrumados... As observações só raramente dão à criança o reconforto de um sucesso. Ela se desencoraja e busca em outros caminhos - repreensíveis - outros sucessos.

    Faça com que suas crianças sempre tenham sucesso. O tônus do ensino será imediatamente reabilitado.

    Todavia, os pais e os educadores lhe dirão que não se pode dar uma nota boa para um trabalho insuficiente, ou felicitar um aluno por um caderno sem capricho.

    Sim, mas podemos praticar uma pedagogia que permita às crianças terem sucesso, apresentarem trabalhos feitos com amor, realizarem pinturas ou cerâmicas que são obras-primas, fazerem conferências aplaudidas pelo auditório.

    É toda a fórmula da Escola que devemos mudar, e também o papel do educador que, em lugar de ser exclusivamente um censor, saberá promover seu papel eminentemente de apoio.

Teste:

SINAL VERDE

Para uma pedagogia do sucesso.

SINAL AMARELO

Esforço para evitar o fracasso.

SINAL VERMELHO

Pedagogia do fracasso.

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Invariante nº 10 ter

 

Não é o jogo que é natural à criança, mas sim o trabalho.

    Vamos contra a corrente da psicologia e da pedagogia contemporâneas ao afirmarmos este invariante da primazia do trabalho. (Ver especialmente CFreinet - A Educação do Trabalho, Ed. Martins Fontes, SP).

    O erro começa na pré-escola, que, deste ponto de vista, contaminou as famílias. Basta dar uma olhada nos catálogos das grandes editoras para se convencer: não se apresenta nenhum instrumento de trabalho, mas sim uma infinidade de jogos.

    Também nas famílias formou-se o hábito de não fazer as crianças trabalharem. Elas são os reizinhos preguiçosos para os quais só se oferecem jogos.

    A escola primária e o segundo grau são o domínio dos deveres e exercícios impostos, que apresentam no máximo um interesse superficial e não respondem de modo algum a nossa definição do trabalho natural, motivado e exaustivo cujas virtudes nunca seá demais realçar.

    Nossa pedagogia é justamente uma pedagogia do trabalho. Nossa originalidade é a de termos criado, experimentado, difundido instrumentos e técnicas de trabalho cuja prática transforma profundamente nossas classes.

Teste:

SINAL VERDE

Realização máxima de uma escola do trabalho.

SINAL AMARELO

Mistura de deveres e trabalho.

SINAL VERMELHO

Não há ainda trabalho verdadeiro.

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3. As técnicas educativas

Invariante nº 11

 

O caminho normal para a aquisição não é, em absoluto, a observação, a explicação e a demonstração, processo essencial da Escola, mas sim o Tateamento Experimental, processo natural e universal.

    A Escola tradicional opera exclusivamente com explicações. As experiências, quando são feitas, só intervêm como complemento de demonstração.

    Ora, a explicação, mesmo quando ajudada pela demonstração, só contribui com uma aquisição superficial e formal, nunca enraizada na vida do indivíduo, em seu meio. Ela é como esses brotos que crescem prematuramente numa árvore que se replantou e que dão, por um momento, a ilusão de vida. Mas as raízes, ainda não adaptadas ao meio, não levam a seiva indispensável e a planta seca por falta de alimento substancial.

    Infelizmente é essa aquisição superficial, recoberta pelo verniz das palavras, que a Escola atual procura e os exames controlam.

    Sente-se a vacuidade dessa superficialidade e preconiza-se, em toda parte, mas especialmente fora do ensino, a cultura profunda que prepara os pesquisadores inteligentes e eficientes.

    Para uma verdadeira cultura é necessário o tateamento experimental, como o expusemos em nosso livro Ensaio da Psicologia Sensível, que é a base de nossa pedagogia.

    Os trabalhos científicos experimentais são o primeiro reconhecimento oficial desse processo universal.

Teste:

SINAL VERDE

Para uma educação fundada na experiência e na vida através do tateamento experimental.

SINAL AMARELO

Para a introdução cada vez mais prática da experimentação na Escola com retorno ainda à explicação em determinadas disciplinas.

SINAL VERMELHO

Ainda não foi modificada a prática escolástica da aprendizagem e do entulhamento.

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Invariante nº 12

 

A memória, da qual a Escola faz tanta questão, só é válida e preciosa quando integrada no Tateamento Experimental, quando está verdadeiramente a serviço da vida.

    Caso contrário, ela só faz o efeito de uma fita magnética que grava as palavras para reproduzi-las quando se pede, sem que exista o menor processo inteligente de integração à vida mental.

    "Saber de cor não é saber", já dizia Montaigne, que fulminava contra o costume dos escolásticos de imporem conhecimentos como quem despeja por um funil.

    Evidentemente uma boa memória é preciosa. Concluiu-se então que, para ter essa boa memória, era necessário exercitar essa faculdade como se ela fosse um veículo essencial para o conhecimento.

    Mas, contrariamente à crença geral dos escolásticos, a memória não é cultivada pelo exercício. Por esse caminho é possível adquirir certos procedimentos mnemotécnicos ilusórios. O uso mecânico da memória tende, ao contrário, a cansar e a esgotar. É o que acontece com nossa juventude mal orientada.

    Infelizmente todo o ensino escolástico está fundado na memória, e os exames medem exclusivamente as aquisições de memória.

Teste:

SINAL VERDE

Dar um ensino vivo no qual a memória desempenha apenas o seu papel de ajuda técnica.

SINAL AMARELO

Para um ensino no qual a memória ainda tem um grande espaço, mas no qual, todavia, começa a cultura em profundidade.

SINAL VERMELHO

Para uma educação e uma motivação à base de memória.

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Invariante nº 13

 

As aquisições não são feitas, como às vezes se acredita, através do estudo das regras e das leis, mas sim pela experiência. Estudar primeiro essas regras e leis na língua, na arte, na matemática, nas ciências, é colocar o carro na frente dos bois.

    As regras e as leis são fruto da experiência, caso contrário são apenas fórmulas sem valor.

Teste:

SINAL VERDE

Para um ensino vivo experimental.

SINAL AMARELO

Experiências, mas estudo simultâneo de determinadas regras, na esperança - vã - de que o ensino possa se beneficiar com isso.

SINAL VERMELHO

Ensino clássico à base de regras e princípios decorados.

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Invariante nº 14

 

A inteligência não é, como ensina a escolástica, uma faculdade específica, funcionando em circuito fechado, independentemente dos outros elementos vitais do indivíduo.

    Diz-se: esta criança é, ou não é, inteligente.

    Ora, a inteligência não existe em si: ela é a emanação complexa das possibilidades mais eminentes do indivíduo.

    Se a inteligência não existe em si, não há um método especial de cultura da inteligência. Ela é, como a saúde, uma síntese de elementos intimamente ligados sobre os quais teremos de agir favoravelmente.

    Em nosso Ensaio de Psicologia Sensível, explicamos que a inteligência é a permeabilidade à experiência. Quanto mais sensível o indivíduo for a essas experiências, quanto mais as experiências bem sucedidas marcarem seu comportamento, tanto mais rápido ele progredirá.

    É ao generalizar, na sala de aula e fora dela, a prática do Tateamento Experimental, é tornando-a possível e eficiente, que se educa realmente a inteligência.

  

Teste:

SINAL VERDE

Processo intensivo de tateamento experimental de modo como se tornou possível com a Pedagogia Freinet.

SINAL AMARELO

Intensificação progressiva do tateamento experimental, todavia no quadro da velha pedagogia intelectualista.

SINAL VERMELHO

Concepção ainda clássica da inteligência através de práticas escolares escolásticas.

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Invariante nº 15

 

A escola cultiva apenas uma forma abstrata de inteligência, que age, fora da realidade viva, através de palavras e ideias fixadas pela memória.

    Os indivíduos que tiveram essa forma de inteligência hipertrofiada serão capazes de discorrer com virtuosismo sobre todos os assuntos aprendidos, o que não os impede de serem às vezes não inteligentes em tudo o que diz respeito à vida e à adaptação ao meio.

    Existem muitas outras formas de inteligência, variáveis conforme as incidências do tateamento experimental que lhes serviu de base:

  • a inteligência das mãos, proveniente das virtudes com as quais se age sobre o meio para transformá-lo e dominá-lo;
  • a inteligência artística;
  • a inteligência especulativa, que faz a genialidade dos pesquisadores científicos e dos grandes mestres do comércio e da indústria;
  • a inteligência política e social, que forma os homens de ação e os condutores das massas.

    O povo sempre honrou essas diversas formas de inteligência. Elas nos valeram os gênios artísticos, os homens devotados até o sacrifício, os inventores e os sábios, que muitas vezes fracassaram na Escola porque se mostraram rebeldes aos ensinamentos tradicionais.

    A sociedade atual tem tanta necessidade de quadros polivalentes, de pesquisadores e de criadores que se manifesta uma tendência muito clara - frequentemente fora da Universidade - pelo cultivo dessas formas diversas de inteligência.

    Nossa pedagogia fornece esse cultivo e, nesse domínio, está ainda numa audaciosa vanguarda.

    Todavia a batalha ainda não foi vencida. Os "intelectuais" defendem e defenderão ainda por muito tempo seus privilégios, autenticados pelos exames e os diplomas.

Teste

SINAL VERDE

Se, através de técnicas adequadas, você cultiva ao máximo todo o potencial de inteligência dos indivíduos.

SINAL AMARELO

Se o cultivo dessas possibilidades complementares ainda é feito incidentalmente.

SINAL VERMELHO

Se você ainda se contenta com o cultivo da inteligência escolar.

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Invariante nº 16

 

A criança não gosta de ouvir uma aula ex-cathedra.

    Não é especialmente por distração ou preguiça. Pelas razões às quais já nos referimos, nem a criança nem o adulto gostam de ouvir o que não solicitaram e de que não sentem uma necessidade viva. Isso explica o fraco rendimento desse tipo de aula e todos os artifícios que os educadores precisaram inventar para obrigar as crianças a se sujeitarem às aulas mestras.

    E, no entanto, pode ser que digam, é necessário que a criança aprenda e compreenda o que não sabe e que o professor, portanto, deve lhe ensinar. Mas será que não existem outros caminhos para esse ensino?

    Nossas técnicas trazem diversas soluções para esses problemas. Recomendamos uma em especial:

    Se você explica numa aula, com autoridade, ninguém escuta. Mas, organize o seu trabalho de forma que a própria criança comece a agir, a experimentar, a inquirir, a ler, a escolher e classificar documentos. Ela lhe colocará questões que a intrigaram. E você responderá. Será o que chamamos de aula a posteriori.

Teste

SINAL VERDE

Você começa, em todas as disciplinas, pela experiência e pela informação.

SINAL AMARELO

Você se esforça por tornar a aula interessante, mas ela continua sendo aula.

SINAL VERMELHO

Você não ultrapassou o estágio da aula ex-cathedra.

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Invariante nº 17

 

A criança não se cansa de fazer um trabalho que está na linha de sua vida, que lhe é, por assim dizer, funcional.

    O que cansa tanto as crianças quanto os adultos é o esforço contra a natureza, que é feito porque se é obrigado.

    A escolástica habituou-se tanto a seus erros que foi admitido oficialmente que a criança não pode trabalhar mais do que quarenta minutos e que, depois de cada aula, precisa de 10 minutos de recreio.

    Ora, constatamos experimentalmente - e essa constatação tem muito poucas exceções - que essa regra escolástica é falsa. Quando está ocupada em um trabalho vivo, que responde às suas necessidades, a criança não se cansa absolutamente e pode dedicar-se a ele durante duas ou três horas, ou até mais se não intervierem as necessidades físicas naturais.

    Na Escola Freinet, as crianças trabalham sem interrupção das 8h30m até as 11h30m, e bem normalmente.

    O cansaço da criança é o teste que permite revelar a qualidade de uma pedagogia.

Teste

SINAL VERDE

A criança pode trabalhar várias horas sem se cansar.

SINAL AMARELO

A criança se cansa às vezes e por isso precisa de descon tração e repouso.

SINAL VERDE

É forçosa a prática dos recreios.

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Invariante nº 18

 

Ninguém, criança ou adulto, gosta de controles e de sanções, que são sempre considerados como um ataque à sua dignidade, sobretudo quando exercidos em público.

    Basta lembrar em que estado de oposição, frequentemente malévola, o controle de um policial o coloca, mesmo quando você está errado.

    Desse ponto de vista, a correção das lições e dos exercícios e a recitação dos resumos são sempre um motivo de perturbação e de oposição por parte da criança.

    Isso é incontestável.

    Costuma-se dizer que é um mal necessário e que é preciso dar ordens e controlar. A reação argumenta sempre assim quando, diante de iniciativas revolucionárias, pretende defender a tradição e seus privilégios. E, no entanto, se encontrássemos a possibilidade de suprimir essas práticas perturbadoras, a pedagogia daria um passo encorajador.

    Não são tanto as correções por elas mesmas que devemos abandonar, mas antes modificar a atitude do professr diante do trabalho da criança.

    Na escola tradicional, a criança, por princípio, está sempre errada. O professor tem a tendência de ver nos trabalhos de seus alunos, não aquilo que está bom, mas, segundo ele, o que é condenável. Nisso ele se parece com os policiais, que estão sempre em busca dos delinquentes.

    Essa situação de inferioridade e de erro é essencialmente aviltante. Certamente é uma das causas principais dos fracassos escolares e da aversão que a criança sente muito cedo pelas coisas da escola.

    Todavia, dirão, é preciso corrigir os defeitos e as fraquezas das crianças, senão elas nunca farão esforço para melhorar.

    A mãe nunca ralha com seu filho porque ele pronunciou mal uma palavra ou porque caiu quando dava os primeiros passos. Ela sabe, intuitivamente, que a criança, por natureza, faz o possível para ter sucesso, pois o fracasso a desequilibra. Se errou é porque não foi possível fazer de outro modo. Nosso papel de educador é semelhante: não corrigir e sim ajudar a ter sucesso e a ultrapassar os erros.

    A atitude de apoio é a única válida em pedagogia. Mas ela supõe, evidentemente, que reconsideremos as técnicas de trabalho, que os métodos naturais tomem o lugar da escolástica e que as crianças trabalhem por prazer, sem a autoridade do professor.

    Interessar a criança por seu trabalho e por sua vida de criança é, então, o primeiro objetivo da Escola Moderna. Pode-se ver em nossos diversos escritos, em nossas salas de aulas e em nossas exposições em que medida iniciamos essa revolução pedagógica.

Teste

SINAL VERDE

Você suprimiu as correções com tinta vermelha, adotou uma atitude de apoio.

SINAL AMARELO

Está somente a meio caminho dessa conquista.

SINAL VERMELHO

Permanece ainda nos velhos princípios de correção e de sanções.

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Invariante nº 19

 

As notas e classificações são sempre um erro.

    A nota é a apreciação feita pelo adulto do trabalho da criança. Seria válida se fosse objetiva e justa. Ela pode ser, pelo menos parcialmente, quando se trata de aquisições simples, da técnica, das quatro operações, por exemplo. Mas para o trabalho mais complexo em que a inteligência, a compreensão, as próprias noções de comportamento entram em jogo, qualquer medida sistemática é falha. Não é de espantar se, nesse plano, as notas podem variar até o dobro, conforme os examinadores, o que não impede que eles utilizem, imperturbavelmente, os meios e os quartos, como se seguissem um cronômetro.

    O que dizer então das classificações estabelecidas com bases nessas notas falsas, e como decidir que tal aluno passe adiante daquele que o segue com alguns centésimos de pontos de vantagem.

    Esta é, claramente, a mais falsa das matemáticas, a mais desumana das estatísticas.

    Professores e pais apoiam-na, no entanto, porque, nas atuais condições da escola, com crianças que não têm vontade de trabalhar, as notas e as classificações continuam sendo o meio mais eficaz de sanção e de estímulo. Mas esse meio tem uma contrapartida gravemente perigosa:

    - Como se trata de dar notas com um mínimo de erros, permanece-se em pedagogia naquilo que é mensurável. Um exercício, um cálculo, um problema, a repetição de uma aula, tudo isso pode efetivamente gerar uma nota aceitável. Mas a compreensão, as funções da inteligência, a criação, a invenção, o senso artístico, científico, histórico, não podem receber notas. São então reduzidos ao mínimo na Escola, e suprimidos da competição. Entram em conta debilmente nos exames e concursos.

    Esta é a situação atual.

    Nós a atenuamos:

    - proporcionando às crianças o gosto e a necessidade de trabalho;

    - criando uma emulação saudável através da competição cooperativa e social;

    - aperfeiçoando um sistema de gráficos e de certificados, que em breve substituirão o uso abusivo das notas e classificações.

Teste

SINAL VERDE

Você suprimiu as notas e classificações substituindo-as por novas formas de trabalho.

SINAL AMARELO

Você substituiu precavidamente as notas e classificações por outros nomes.

SINAL VERMELHO

Permanece ainda fiel à antiga tradição.

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Invariante nº 20

 

Fale o menos possível

    Por mais que façamos, a velha pedagogia nos marcou tanto que sempre temos tendência a falar, explicar, demonstrar, quando algo não vai bem.

    Economize com avareza sem aparelho vocal habituado a superar todos os ruídos.

    Não explique por qualquer motivo: de nada vale. Quanto menos você falar, mais agirá.

    Quem trabalha conscienciosamente não fala. Mas essa mudança em seu comportamento e sua ação supõe que tome consciência de nosso Invariante nº 13. A formação não se dá pela explicação e pela demonstração, mas pela ação e pelo tateamento experimental. Supõe também que você domine o material e as técnicas que permitem uma pedagogia mais eficiente.

Teste

SINAL VERDE

Você está organizado para trabalhar; suprimiu as aulas. Fala cada vez menos.

SINAL AMARELO

Esforça-se por falar menos, mas ainda não operou a evolução pedagógica necessária,

SINAL VERMELHO

Prefere as virtudes da llinguagem explicativa.

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Invariante nº 21

 

A criança não gosta do trabalho de rebanho ao qual o indivíduo tem que se sujeitar. Gosta do trabalho individual ou do trabalho de equipe no seio de uma comunidade cooperativa.

    É a condenação definitiva das práticas escolásticas nas quais as crianças fazem, em todos os momentos, exatamente a mesma coisa. É inútil classificar os alunos por turmas ou por cursos, eles nunca têm as mesmas necessidades nem as mesmas aptidões, e é profundamente irracional pretender fazê-los avançar no mesmo passo. Alguns se enervam porque marcam passo e gostariam e poderiam ir mais rápido. Outros se desencorajam porque não conseguem ir sozinhos. Uma pequena minoria aproveita o trabalho organizado desta maneira.

    Procuramos e encontramos a possibilidade de permitir que as crianças trabalhem em seu rítmo no meio de uma comunidade viva.

    As noções de trabalho de equipe e de trabalho cooperativo devem ser reconsideradas. Trabalhar em equipe ou em cooperativa não significa forçosamente que cada membro faça o mesmo trabalho. O indivíduo deve, ao contrário, conservar ao máximo sua personalidade, mas a serviço de uma comunidade.

    Essa nova forma de trabalho é. do ponto de vista pedagógico e humano, da maior importância.

SINAL VERDE

Você organiza a prática interessante do trabalho individual no seio de uma equipe ou de uma comunidade.

SINAL AMARELO

Faz tentativas de trabalho de equipe.

SINAL VERMELHO

Persiste numa organização tradicional do trabalho.

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Invariante nº 22

 

A ordem e a disciplina são necessárias na sala de aula.

    Acredita-se frequentemente que as técnicas Freinet se dão bem com uma anárquica falta de organização, e que a expressão livre é sinônimo de licenciosidade e de abandono.

     A realidade é exatamente o contrário: uma classe complexa, que deve praticar simultaneamente técnicas diversas, e na qual se tenta evitar a autoridade brutal, precisa de muito mais ordem e disciplina do que uma classe tradicional, na qual compêndios e aulas são os instrumentos essenciais.

    Mas não se trata de uma ordem formal, que se traduz, enquanto o professor vigia, pelo silêncio e pelos braços cruzados. Precisamos de uma ordem profunda, inserida no comportamento e no trabalho dos alunos; de uma verdadeira técnica de vida motivada e desejada pelos próprios usuários.

    Não são apenas palavras, são realidades possíveis em todas as classes que se orientarem para o trabalho novo. A ordem e a disciplina da Escola Moderna são a organização do trabalho.

    Pratique as técnicas modernas para um trabalho vivo, as crianças se disciplinarão por elas mesmas, porque querem trabalhar e progredir conforme regras apropriadas.

    Você terá então em sua sala de aula a ordem verdadeira. 

Teste

SINAL VERDE

Você chegou, com técnicas de trabalho complexas, a uma ordem viva.

SINAL AMARELO

O trabalho ainda não está organizado o bastante para ser suficiente nessa procura da ordem necessária.

SINAL VERMELHO

As crianças ainda precisam da ordem imposta de fora.

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Invariante nº 23

 

As punições são sempre um erro. São humilhantes para todos e nunca atingem o objetivo desejado. São, quando muito, um mal menor.

    Todavia, nos dirão, existem casos em que a punição se torna uma necessidade, em que é a única solução para manter a ordem.

    Isso é exato. Mas é que o erro foi cometido antes de nós, ou fora de nossa alçada, e sofremos sua triste consequência. Quando as crianças apanham frequentemente em casa, constróem uma técnica de vida à base de pancadas e punições. Ficam provisoriamente insensíveis a todas as outras técnicas de vida e sua reeducação será às vezes longa e difícil.    

    Se as crianças são mal alimentadas, mal alojadas, se não estão habituadas com o trabalho, teremos muito o que fazer para chegar a uma ordem funcinal. O erro também foi cometido fora de nós.

    Mas não é seguindo os passos do erro que o corrigiremos. É trabalhando para tornar inúteis as punições.

    Observe com muita lealdade uma criança punida: estude as suas próprias reações às punições que você mesmo já sofreu. Há sempre um elemento de posição, de cólera, de vingança, às vezes de ódio. Há sempre humilhação, mesmo se for mascarada com um ar de bravata, de orgulho ou de fafarronice.

    Se o castigo é sempre um erro, cada vez que você recorre a ele está pisando em falso, mesmo que aparentemente tudo pareça entrar na ordem, mesmo que você não perceba imediatamente as consequências.

    É na medida em que fazemos com que as crianças se interessem pelo trabalho na sala de aula, em que satisfazemos sua necessidade de criação, de enriquecimento e de vida, que a classe se harmoniza e as sanções tornam-se inúteis.

    Não estamos dizendo que não punir é simples. A ordem e a disciplina são o resultado final de todas as condições de trabalho na sala de aula, e essas condições frequentemente ainda são muito desfavoráveis.

    Mas isso não nos impede de pensar com clareza e avaliar a importância de nossos erros, mesmo que nem sempre possamos evitá-los.

Teste

SINAL VERDE

Você suprimiu totalmente os castigos em sua forma de sanção automática.

SINAL AMARELO

Você tenta suprimir os castigos, mas observa ainda com frequência recaídas sintomáticas.

SINAL VERMELHO

Você acredita que os castigos são necessários e , portanto, aceitáveis.

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Invariante nº 24

 

A vida nova da Escola supõe a cooperação escolar, isto é, a gestão, pelos usuários, inclusive o educador, da vida e do trabalho escolar.

    A cooperação escolar é a consequência dos invariantes acima. Se você ainda não conquistou uma quantidade suficiente de sinais verdes, hesitará em se dedicar totalmente à cooperação. Pensará que as crianças não são suficientemente experientes, conscientes de seus deveres, "homens", e que é necessário que você manifeste sua superioridade e autoridade.

    Se você se despojou verdadeiramente do velho professor, dará à cooperativa escolar o máximo de responsabilidade na organização de sua classe.

    Mas:

    1º. Essa responsabilidade não deve ser exclusivamente econômica e técnica. Não se trata de recolher fundos e geri-los, nem mesmo de produzir em benefício da Cooperativa. Tudo isso não é negligenciável e constitui um primeiro passo. Mas, apesar de tudo, é um aspecto menos de uma cooperação que deve se estender a toda a vida da classe, principalmente ao aspecto social e moral da organização.

    Indicamos as técnicas, especialmente o jornal mural e a Assembleia geral semanal da Cooperativa.

    2º. O educador não deve se contentar em ver a Cooperativa funcionar para sancionar, de fora, suas fraquezas e erros. Deve integrar-se a ela e tentar ser, com muita compreensão e dinamismo, seu melhor elemento.

Teste

SINAL VERDE

Você pratica essa cooperação total.

SINAL AMARELO

Você tem uma Cooperativa, por assim dizer,  sobreposta à classe, mas ainda não está investida de todas as suas responsabilidades.

SINAL VERMELHO

Você quer conservar todo o poder.

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Invariante nº 25

 

As classes sobrecarregadas são sempre um erro pedagógico.

    Quando se trata apenas de instruir as crianças, o número elevado pode ser, às vezes, aceitável. Podem existir técnicas de trabalho que permitam aquisições mecânicas para uma massa de cerca de 50 crianças, quase tão bem quanto para uma equipe de dez.

    É o que se tenta demonstrar quando se fala das virtudes possíveis das técnicas audiovisuais.

    Mas a aquisição de conhecimentos é, apesar de tudo, uma função menor da Escola. Em contrapartida, o que é importante é a formação, na criança, do homem de amanhã, do homem moral e social, do trabalhador consciente de seus direitos e deveres e suficientemente corajoso para assumí-los, da criança e do homem inteligente, pesquisador, criador, escritor, matemático, músico, artista.

    As qualidades que essas funções exigem não podem ser adquiridas em um grupo anônimo. Nunca são adquiridas apenas com a informação, por mais majestosa que seja. Só podem se desenvolver quando se tem a possibilidade efetiva de trabalhar, agir e viver individual e socialmente. Nesse domínio também o uso faz o mestre; é vivendo e trabalhando numa equipe ou num grupo que se aprende a viver em grupo.

    Essas condições não podem existir quando a Escola se torna uma massa anônima, como acontece, automaticamente, quando há mais de 20-25 alunos por classe.

Teste

SINAL VERDE

Você tem 25-30 alunos por classe, tudo lhe é possível.

SINAL AMARELO

Tem 30-35 alunos, terá muitas dificuldades.

SINAL VERMELHO

Acima desse número de alunos.

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Invariante nº 26

 

A concepção atual dos grandes conjuntos escolares resulta no anonimato dos professores e dos alunos; por isso é sempre um erro e um entrave.

    A grande massa, quando não está organizada a serviço das personalidades, quando é simples justaposição de indivíduos que não estão ligados por nenhum elo, digamos, espiritual ou psíquico, é sempre destruidora dessas personalidades. Foi o que se verificou em todas as épocas no exército, que sempre embrutece.

    As pequenas escolas, com menos de 5 a 6 classes, continuam sendo ainda um vilarejo simpático, onde as pessoas podem se conhecer e viver em função umas das outras, onde os professores podem criar amizades, discutir entre si e acompanhar todos os alunos.

    Acima desse número de classes, cai-se nos grandes conjuntos, do tipo caserna, no qual o anonimato é geral: os professores nem sempre se conhecem; não existe, em todo caso, nenhum pensamento, nenhuma preocupação comum que os reúna e os una. Para as crianças, é a caserna, mais ou menos maléfica, mas de onde o espírito de caserna não pode ser banido.

    A construção de escolas de 5 a 6 salas de aulas, a cisão dos grandes conjuntos em unidades pedagógicas de 5 a 6 elementos, surgem como medidas indispensáveis à modernização e ao sucesso da Escola.

Teste:

SINAL VERDE    

Você se encontra num grupo humano de 5 a 6 classes, será facilmente bem sucedido.

SINAL AMARELO

Condições especiais lhe permitem um trabalho aceitável em um grande conjunto (por exemplo, local e curso separados, ou classe especial).

SINAL VERMELHO

Num grande conjunto caserna anônimo.

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Invariante nº 27

 

Prepara-se a democracia de amanhã pela democracia na Escola. Um regime autoritário na Escola não pode ser formador de cidadãos democratas.

    É algo tão natural que parece que o simples bom senso imporia a todos este invariante. Contudo, infelizmente, os hábitos autoritários estão tão arraigados na vida dos pais e dos professores que quase na totalidade das salas de aulas e das famílias as crianças permanecem essencialmente menores e submetidas à autoridade incontestável dos adultos.

    O pai talvez seja sindicalizado, filiado ou mesmo militante de um partido político progressista. Mas, quando volta para casa, frequentemente é o mestre que, como na Idade Média, não enfrenta nenhuma oposição às suas ordens.

    O professor também se diz evoluído social, sindical e politicamente, mas em sua sala de aula não tolera que se contradiga a sua autoridade. Tudo deve andar nos eixos.

    E depois se estranha que as crianças que escapam um dia a essa autoridade sejam incapazes de se governar sozinhas, de refletir e de agir: que sejam inaptas a se organizar e que sua principal preocupação seja, agora e mais tarde, a de escapar à autoridade!

    No século da democracia, enquanto todos os países, um após os outros acedem à independência, a Escola do povo só pode ser uma escola democrática que prepara, através do exemplo e da ação, a verdadeira democracia.

Teste:

SINAL VERDE

Você se esforça por organizar a democracia na Escola.

SINAL AMARELO

Faz timidamente algumas tentativas que não atingem ainda todo o ensino.

SINAL VERMELHO

Ainda está na Escola autoritária.

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Invariante nº 28

 

Só se pode educar com dignidade. Respeitar as crianças e estas respeitarem seus professores, é uma das primeiras condições para a renovação da Escola.

    Este é o resultado dos sinais amarelos e verdes que margeiam o caminho que tentamos definir.

    É a luz da dignidade das novas relações que se estabelererão em nossas classes que avaliaremos os progressos reais que tivermos realizado.

    O antigo provérbio recomendado aos adultos é integralmente válido em nossas classes:

    "Não faça aos outros o que não gostaria que lhe fizessem. Faça aos outros o que gostaria que fizessem a você."

Teste:

SINAL VERDE

Consegue realizar essa regra em sua classe.

SINAL AMARELO

Você se esforça sem conseguir ainda integralmente.

SINAL VERMELHO

Se você ainda não humanizou a Escola.

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Invariante nº 29

 

A oposição da reação pedagógica, elemento da reação social e política, é também um invariante com o qual, infelizmente, teremos que contar, sem que possamos evitá-lo ou corrigi-lo.

    A natureza humana é assim: instala-se egoisticamente no que existe e se defende,chegando a ser injusta e violenta, contra todos os que pretendem, em nome do progresso, perturbar a quietude das pessoas estabelecidas.

    Tente, de noite, numa estação ferroviária, entrar num compartimento de um trem onde os viajantes estão instalados comodamente, ocupando até mesmo o lugar que lhe corresponde. Haverá um concerto unânime de grunhidos, protestos, invectivas e até mesmo pancadas.

    Tendo tomado consciência da realidade destes trinta invariantes, você quererá adequar a eles a organização do seu trabalho e de sua classe. Mas o seu exemplo, principalmente se tiver sucesso, obrigará os educadores e os pais à sua volta a reconsiderarem progressivamente as próprias açõs. E será um de seus méritos conseguir isso lentamente, através das oposições, das críticas, dos grunidos e das invectivas.

    Se tantos dos nossos são criticados, denegridos, caluniados, se se consegue às vezes mobilizar contra eles a conjunção do imobilismo e do conservadorismo, é porque este também é um invariante do progresso escolar e social.

    Não se espante. Saiba previamente que é preciso contar com este invariante, que é o preço que pagamos por nossas conquistas, e que as mesmas dificuldades e os mesmos sofrimentos margeiam sempre o caminho dos que querem avançar, porque se esforçam por ser verdadeiros educadores, generosos formadores de homens.

Teste:

SINAL VERDE

Conseguiu dominar essas oposições.

SINAL AMARELO

Enfrenta essas oposições mas com grandes esperanças de sucesso.

SINAL VERMELHO

Encontra oposição demais para avançar.

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Invariante nº 30

 

Finalmente um invariante que justifica todos os nossos tateios e autentica nossa ação: a esperança otimista na vida.

    Quanto mais jovem e novo o indivíduo, mais sente necessidade de avançar com temeridade. Quando a autoridade brutal acredita ter estancado seu ímpeto, hei-lo que segue, clandestinamente, por atalhos, para ultrapassar os obstáculos e retomar em seguida sua marcha para diante.

    Quando se chega, pela doença, o emburguesamento, a velhice ou os erros graves de educação, a aniquilar essa esperança de vida, o fracasso pode parecer definitivo.

    A esperança na vida será, na busca tateante dos invariantes acima, o misterioso fio de Ariane que nos conduzirá a nosso objetivo comum: a formação na criança do homem de amanhã.

 

GRÁFICO GERAL

Se você quiser determinar sua situação de educador e ver:

  • em que medida dominou os obstáculos que se opõem à sua ação;
  • como soube, nos sinais vermelhos, não se contentar em parar, mas tentou buscar, por desvios e atalhos, ultrapassar o obstáculo para encontrar mais adiante o caminho verdadeiro;
  • como se introduziu com sutileza no momento dos sinais amarelos ou pulsantes;
  • como atravessou em velocidade acelerada os sinais verdes liberadores;

Preencha o gráfico a seguir, que o incitará a continuar conosco a luta por uma escola moderna sempre mais eficiente, mais livre e mais humana.

Invariante Vermelho Amarelo  Verde 
1      
2      
3      
4      
5      
6      
7      
8      
9      
10      
10 bis      
10 ter      
11      
12      
13      
14      
15      
16      
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